Alguns equívocos acontecem
quando tratamos de Surdocegueira e/ou
Deficiência Múltipla- DMU. Para isso é importante expormos seus respectivos
conceitos para que possamos diferenciá- las e também lidar com determinadas
situações.
Segundo Lagati ( 1995 apud
BOSCO, 2010, p. 08): “ Surdocegueira é
uma condição única que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas
pela cegueira e pela surdez.”
E de acordo com Maia
(2011, p. 01): “ A surdocegueira é uma terminologia adotada mundialmente para
se referir as pessoas que tem perdas visuais e auditivas concomitantes em graus
diferentes.”
A autora a subdivide de acordo com as características
e grau da deficiência em:
·
Surdocego total: Aquele com ausência total
de visãoe audição;
·
Surdocego com surdez profunda associada com
resíduo visual;
·
Surdocego com moderada associada com
resíduo visual;
·
Surdocego com moderada ou leve com
cegueira;
·
Surdocego com perdas leves, tanto auditiva
quanto visuais;
Maia (2011) ainda a divide
de acordo com o período do surgimento da
surdocegueira na pessoa em:
·
Surdocegueira congênita: quando a criança nasce Surdocega
ou adquire a surdocegueira nos primeiros anos de vida antes da aquisição de uma
língua (português ou Libras – Língua Brasileira de Sinais).
·
Surdocegueira adquirida:
quando a pessoa ficou surdocega após a aquisição de uma língua, seja oral ou
sinalizada.
E Deficiência Múltipla, é
aquele que “têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea
que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de
deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual
e o relacionamento social.” (MEC/ SEESP, 2002).
Para Maia (2011) é aquela
considerada como uma associação de duas ou mais deficiências.A autora acima destaca a associação de deficiência que corresponde a Deficiência Múltipla aqui no Brasil:
·
Física (deficiência
física) e psíquica (Deficiência
Intelectual ou Transtorno Global do Desenvolvimento);
·
Sensorial
(deficiência visual ou deficiência auditiva) e psíquica (Deficiência Intelectual ou Transtorno Global do
Desenvolvimento);
·
Sensorial
(deficiência visual ou deficiência auditiva) e física (deficiência física ou Paralisia Cerebral);
·
Física (deficiência
física), psíquica (Deficiência
Intelectual ou Transtorno Global do Desenvolvimento) e Sensorial (deficiência visual ou deficiência auditiva).
Ikonomidis (2010, p. 02) divide
a deficiência múltipla em:
• Pré-natais:
Eritroblastose
fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis,
AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como, Charge,
Lennox-Gaustaut entre outras.
• Peri-natais:
Prematuridade;
falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.
• Pós-natais:
Efeitos
colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia, Acidentes,
sarampo, caxumba, meningite, diabetes.
Aparecimento tardio de características de síndromes como distúrbios
visuais na Wolfram, Usher e Alport (Retinose Pigmentar). Podem ser
acrescentadas situações ambientais causadoras de múltipla deficiência, como
acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e
outras.
Apesar
das diferenças existem também semelhanças nas deficiências acima referenciadas.
A comunicação, por exemplo, é essencial para todos os seres humanos e pessoas
com surdocegueira ou deficiência múltipla não são exceções. Apenas ocorre de
maneira específica e deve ser destacada devido ter como suas principais vias de
acesso a visão e a audição, onde a perda de um ou outro sentido acaba por
afetar diretamente na interação com o meio e no acesso de experiências
significativas limitando a aprendizagem incidental.
NECESSIDADES BÁSICAS DAS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA E COM
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
As pessoas com Deficiência
Múltipla, como afirma Bosco (2010) é um grupo que apresenta características específicas
e peculiares, e por consequência, com necessidades únicas. A autora destaca
vários pontos importantes relacionados às necessidades dessas pessoas. Destaca
por exemplo, que: “O corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir
e por meio dele, o homem descobre o mundo e a si mesmo.” (BOSCO, 2010, p. 11).
E que pessoas que fazem parte desse
grupo que não apresentam graves problemas motores, precisam aprender a usar as
duas mãos. Isso para servir como tentativa de aliviar as eventuais
estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o desenvolvimento
de um sistema estruturado de comunicação.
Outra necessidade básica bem explicitada
por Bosco (2010) é sobre as dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo
neurológicas, que é comum nessas pessoas e que acaba ocasionando algum tipo de
limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações do seu
entorno. Podendo resultar em prejuízos
no processo de simbolização das experiências vividas e acarretar carência de
sentido para as mesmas.
ESTRATÉGIAS
UTILIZADAS PARA A AQUISIÇÃO DA COMUNICAÇÃO
De acordo com Serpa (2002, p. 02): “Nas crianças com
surdocegueira e com deficiência múltipla, a COMUNICAÇÃO é o aspecto mais
importante, e por isso, deve-se focar nela toda a atenção na implementação do
programa educacional / terapêutico, já que é o ponto de partida para chegar a
qualquer aprendizagem.” A autora afirma ainda que a comunicação não só acontece
no âmbito verbal, mas transcende o não verbal, cabendo aqueles no entorno da
criança tentar entender e interpretar seus gestos, olhar, balbucios etc.
Segundo Maia (2011), podemos dividir a comunicação em: Receptiva e Expressiva.
A primeira ocorre quando alguém recebe e processa a
informação estabelecida através de uma fonte e forma (escrita, fala, Libras
etc.) onde a mesma requer que a pessoa que está recebendo a mensagem
interprete-a da maneira que foi enviada.
A segunda requer que a pessoa que comunica algo, passe a
informação para outra pessoa. A comunicação expressiva pode ser realizada
através de objetos, mas também gestos e objetos corporais, da fala, da escrita,
figuras e de muitas outras formas.
Como afirma Folheto FCT (2005), a comunicação pode ser
dividida ainda em: Simbólica ou Não-simbólica.
A comunicação Simbólica é aquela em que qualquer sistema de
palavras, sinais ou objetos usados para se comunicar organizado e regido por
regras.
A comunicação Não-simbólica é aquela que frequentemente é
individualizada para cada indivíduo e pode não ser convencional. Podendo ser
utilizada em conjunto com a comunicação simbólica ou de maneira
individualizada.
Segundo
Serpa (2002) dentre as estratégias para criar, facilitar e incrementar a comunicação não simbólica se deve levar
em conta alguns aspectos relevantes:
Interesses
Individuais: O interesse das crianças deve estar baseado
na interação física por meio do estabelecimento de rotinas de jogo, na qual
seja possível a imitação de comportamentos com ou sem intenção.
Compensar a
perda dos sentidos à distância: A habilidade
individual para explorar encontra-se limitada pela perda sensorial. Estratégias
com posições que impliquem o contato corporal com os pares comunicativos, a manipulação do ambiente com pequenos
movimentos, ajudam a criança no reconhecimento de pessoas familiares por meio
da exploração tátil e visual.
Responder às
tentativas de comunicação: As crianças realizam
tentativas de comunicação por meio de formas muito simples, em alguns casos
imperceptíveis, como uma mudança na tensão muscular, um movimento dos olhos ou
de uma mão; devendo as mesmas serem respondidas.
Consistência: as rotinas consistentes e estruturadas ajudam a criança surdocego
e multideficiente a antecipar os próximos eventos. As interações devem ser
consistentes, tanto nas rotinas como nas formas de comunicação.
Proporcionando
contingências: A contingência no conhecimento
ou consciência de que uma ação é importante para dar ênfase às relações entre
os comportamentos e seus efeitos. Uma criança tem sua conduta reforçada quando
um resultado desencadeado por esta conduta é positivo
Criando a
necessidade de se comunicar: Se nada
positivo acontece como resultado dos esforços comunicativos ou se todas as
necessidades ou desejos do estudante são proporcionados sem esforço ou pedido,
devem ser criadas situações onde a criança tenha que interagir para poder
participar e obter a atividade desejada.
Introduzindo
um tempo de espera nas respostas: Uma vez que a
necessidade de se comunicar tenha sido estabelecida, a criança requer um tempo
para dar a sua resposta. A criança
surdocego e multideficiente precisa de mais tempo para responder.
Estabelecer
uma vizinhança cooperativa social: Muitas
crianças não são consideradas pelos outros dentro do seu ambiente e isto
diminui as oportunidades para interagir.
Estabelecer
categorias individuais para o ensino pode inadvertidamente diminuir a interação
social e comunicacional. Devem ser criadas situações que envolvam duas ou mais
pessoas que implique uma participação recíproca, também deverão ser
estabelecidos turnos com rotinas diárias e ter a oportunidade de interagir com
crianças menos limitadas ou que não tenham limitações.
Incrementar as
expectativas comunicacionais: Incrementar a
comunicação não simbólica a partir de uma variedade de situações diárias
aumenta a complexidade e diversidade da interação comunicacional.
Deve ser
levado em consideração que: A
comunicação simbólica nem sempre tem que ser a meta. Intensificar e
especializar as habilidades de comunicação não simbólica, são esforços que tendem
a obter maior controle sobre o seu meio. Uma estratégia pode ser usar
frequentemente gestos naturais nas interações com crianças que não usem sinais,
dando maior ênfase às respostas por meio de diferentes ações, gestos, sinais e
vocalizações para criar uma maior comunicação intencional.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BOSCO,
Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA, Shirley R. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva
da Inclusão Escolar - Fascículo 05: Surdocegueira
e Deficiência Múltipla (2010).
Folheto FACT 3 – COMMUNICATION / Primavera 2005 -
Lousiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of Elementary and
Secondary Education. Tradução: Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley
Rodrigues Maia. Junho de 2008.
IKONOMIDIS, Vula Maria Apostila
sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”,2010 sem publicar.
MAIA, Shirley Rodrigues. Aspectos
Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência Múltipla. São Paulo,
2011.
Aproveito para deixar uma dica de vídeo que trata a vida de Helen keller, um grande exemplo de superação que juntamente com sua mestra, Anne Sullivan, conseguiu quebrar todas as barreiras de sua deficiência (Surdocegueira) e seguir em frente em busca de seus sonhos.
link do vídeo: A história de Hellen Keller
http://www.youtube.com/watch?v=4QOdpBPNXS0&feature=related
