domingo, 20 de abril de 2014

SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

 

 

Alguns equívocos acontecem quando tratamos de Surdocegueira  e/ou Deficiência Múltipla- DMU. Para isso é importante expormos seus respectivos conceitos para que possamos diferenciá- las e também lidar com determinadas situações.

Segundo Lagati ( 1995 apud  BOSCO, 2010, p. 08): “ Surdocegueira é uma condição única que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez.”

E de acordo com Maia (2011, p. 01): “ A surdocegueira é uma terminologia adotada mundialmente para se referir as pessoas que tem perdas visuais e auditivas concomitantes em graus diferentes.”

A autora  a subdivide de acordo com as características e grau da deficiência em:

·         Surdocego total: Aquele com ausência total de visãoe audição;

·         Surdocego com surdez profunda associada com resíduo visual;

·         Surdocego com moderada associada com resíduo visual;

·         Surdocego com moderada ou leve com cegueira;

·         Surdocego com perdas leves, tanto auditiva quanto visuais;

Maia (2011) ainda a divide de acordo com  o período do surgimento da surdocegueira na pessoa em:

·         Surdocegueira congênita: quando a criança nasce Surdocega ou adquire a surdocegueira nos primeiros anos de vida antes da aquisição de uma língua (português ou Libras – Língua Brasileira de Sinais).

 

·         Surdocegueira adquirida: quando a pessoa ficou surdocega após a aquisição de uma língua, seja oral ou sinalizada.
 
E Deficiência Múltipla, é aquele que “têm mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social.” (MEC/ SEESP, 2002).
Para Maia (2011) é aquela considerada como uma associação de duas ou mais deficiências.

A autora acima destaca a associação de deficiência que corresponde a Deficiência Múltipla aqui no Brasil:

·         Física (deficiência física) e psíquica (Deficiência Intelectual ou Transtorno Global do Desenvolvimento);

·         Sensorial (deficiência visual ou deficiência auditiva) e psíquica (Deficiência Intelectual ou Transtorno Global do Desenvolvimento);

·         Sensorial (deficiência visual ou deficiência auditiva) e física (deficiência física ou Paralisia Cerebral);

·         Física (deficiência física), psíquica (Deficiência Intelectual ou Transtorno Global do Desenvolvimento) e Sensorial (deficiência visual ou deficiência auditiva).
Ikonomidis (2010, p. 02) divide a deficiência múltipla em:

• Pré-natais:

Eritroblastose fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis, AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como, Charge, Lennox-Gaustaut entre outras.

• Peri-natais:

Prematuridade; falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.
 
• Pós-natais:

Efeitos colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia, Acidentes, sarampo, caxumba, meningite, diabetes.  Aparecimento tardio de características de síndromes como distúrbios visuais na Wolfram, Usher e Alport (Retinose Pigmentar). Podem ser acrescentadas situações ambientais causadoras de múltipla deficiência, como acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e outras.

Apesar das diferenças existem também semelhanças nas deficiências acima referenciadas. A comunicação, por exemplo, é essencial para todos os seres humanos e pessoas com surdocegueira ou deficiência múltipla não são exceções. Apenas ocorre de maneira específica e deve ser destacada devido ter como suas principais vias de acesso a visão e a audição, onde a perda de um ou outro sentido acaba por afetar diretamente na interação com o meio e no acesso de experiências significativas limitando  a aprendizagem incidental.  

NECESSIDADES BÁSICAS DAS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA E COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
 


 

As pessoas com Deficiência Múltipla, como afirma Bosco (2010) é um grupo que apresenta características específicas e peculiares, e por consequência, com necessidades únicas. A autora destaca vários pontos importantes relacionados às necessidades dessas pessoas. Destaca por exemplo, que: “O corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele, o homem descobre o mundo e a si mesmo.” (BOSCO, 2010, p. 11).

E que pessoas que fazem parte desse grupo que não apresentam graves problemas motores, precisam aprender a usar as duas mãos. Isso para servir como tentativa de aliviar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.

Outra necessidade básica bem explicitada por Bosco (2010) é sobre as dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, que é comum nessas pessoas e que acaba ocasionando algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações do seu entorno.  Podendo resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas e acarretar carência de sentido para as mesmas.


ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA A AQUISIÇÃO DA COMUNICAÇÃO

 
 
  
De acordo com Serpa (2002, p. 02): “Nas crianças com surdocegueira e com deficiência múltipla, a COMUNICAÇÃO é o aspecto mais importante, e por isso, deve-se focar nela toda a atenção na implementação do programa educacional / terapêutico, já que é o ponto de partida para chegar a qualquer aprendizagem.” A autora afirma ainda que a comunicação não só acontece no âmbito verbal, mas transcende o não verbal, cabendo aqueles no entorno da criança tentar entender e interpretar seus gestos, olhar, balbucios etc.

Segundo Maia (2011), podemos dividir a comunicação em: Receptiva e Expressiva.

A primeira ocorre quando alguém recebe e processa a informação estabelecida através de uma fonte e forma (escrita, fala, Libras etc.) onde a mesma requer que a pessoa que está recebendo a mensagem interprete-a da maneira que foi enviada.

A segunda requer que a pessoa que comunica algo, passe a informação para outra pessoa. A comunicação expressiva pode ser realizada através de objetos, mas também gestos e objetos corporais, da fala, da escrita, figuras e de muitas outras formas.

Como afirma Folheto FCT (2005), a comunicação pode ser dividida ainda em: Simbólica ou Não-simbólica.

A comunicação Simbólica é aquela em que qualquer sistema de palavras, sinais ou objetos usados para se comunicar organizado e regido por regras.

A comunicação Não-simbólica é aquela que frequentemente é individualizada para cada indivíduo e pode não ser convencional. Podendo ser utilizada em conjunto com a comunicação simbólica ou de maneira individualizada.

Segundo Serpa (2002) dentre as estratégias para criar, facilitar e incrementar a comunicação não simbólica se deve levar em conta alguns aspectos relevantes:

Interesses Individuais: O interesse das crianças deve estar baseado na interação física por meio do estabelecimento de rotinas de jogo, na qual seja possível a imitação de comportamentos com ou sem intenção.

Compensar a perda dos sentidos à distância: A habilidade individual para explorar encontra-se limitada pela perda sensorial. Estratégias com posições que impliquem o contato corporal com os pares comunicativos,  a manipulação do ambiente com pequenos movimentos, ajudam a criança no reconhecimento de pessoas familiares por meio da exploração tátil e visual.

 Responder às tentativas de comunicação: As crianças realizam tentativas de comunicação por meio de formas muito simples, em alguns casos imperceptíveis, como uma mudança na tensão muscular, um movimento dos olhos ou de uma mão; devendo as mesmas serem respondidas.

Consistência: as rotinas consistentes e estruturadas ajudam a criança surdocego e multideficiente a antecipar os próximos eventos. As interações devem ser consistentes, tanto nas rotinas como nas formas de comunicação.

Proporcionando contingências: A contingência no conhecimento ou consciência de que uma ação é importante para dar ênfase às relações entre os comportamentos e seus efeitos. Uma criança tem sua conduta reforçada quando um resultado desencadeado por esta conduta é positivo

Criando a necessidade de se comunicar: Se nada positivo acontece como resultado dos esforços comunicativos ou se todas as necessidades ou desejos do estudante são proporcionados sem esforço ou pedido, devem ser criadas situações onde a criança tenha que interagir para poder participar e obter a atividade desejada.

Introduzindo um tempo de espera nas respostas: Uma vez que a necessidade de se comunicar tenha sido estabelecida, a criança requer um tempo para dar a sua resposta. A criança surdocego e multideficiente precisa de mais tempo para responder.

Estabelecer uma vizinhança cooperativa social: Muitas crianças não são consideradas pelos outros dentro do seu ambiente e isto diminui as oportunidades para interagir.

Estabelecer categorias individuais para o ensino pode inadvertidamente diminuir a interação social e comunicacional. Devem ser criadas situações que envolvam duas ou mais pessoas que implique uma participação recíproca, também deverão ser estabelecidos turnos com rotinas diárias e ter a oportunidade de interagir com crianças menos limitadas ou que não tenham limitações.

Incrementar as expectativas comunicacionais: Incrementar a comunicação não simbólica a partir de uma variedade de situações diárias aumenta a complexidade e diversidade da interação comunicacional.

Deve ser levado em consideração que: A comunicação simbólica nem sempre tem que ser a meta. Intensificar e especializar as habilidades de comunicação não simbólica, são esforços que tendem a obter maior controle sobre o seu meio. Uma estratégia pode ser usar frequentemente gestos naturais nas interações com crianças que não usem sinais, dando maior ênfase às respostas por meio de diferentes ações, gestos, sinais e vocalizações para criar uma maior comunicação intencional.
 

 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BOSCO, Ismênia C. M. G.; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA, Shirley R. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla (2010).

Folheto FACT 3 – COMMUNICATION / Primavera 2005 - Lousiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of Elementary and Secondary Education. Tradução: Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley Rodrigues Maia. Junho de 2008.

IKONOMIDIS, Vula Maria Apostila sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”,2010 sem publicar.

MAIA, Shirley Rodrigues. Aspectos Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência Múltipla. São Paulo, 2011.

 SERPA, Ximena Fonegra. Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do Livro Comunicacion para Persona Sordociegas, INSOR- Colômbia 2002.

Aproveito para deixar uma dica de vídeo que trata a vida de Helen keller, um grande exemplo de superação que juntamente com sua mestra, Anne Sullivan, conseguiu quebrar todas as barreiras de sua deficiência (Surdocegueira) e seguir em frente em busca de seus sonhos.

link do vídeo: A história de Hellen Keller

http://www.youtube.com/watch?v=4QOdpBPNXS0&feature=related