A
nova política de inclusão já é uma realidade no contexto educacional e social
dos cidadãos, embora sejam necessários ainda muitos avanços para chegar a sua
totalidade. Na sua bagagem além de seu embasamento político e filosófico também
vieram muitos embates, críticas e visão a respeito do assunto, mais
especificamente no caso da inclusão da pessoa com surdez. Compreende-se de
acordo com essa nova perspectiva a necessidade de uma quebra de barreiras e de
paradigmas para uma posterior mudança de práticas, principalmente a pedagógica
que até então encontra-se bastante defasada e longe do ideal com apenas algumas
iniciativas isoladas baseadas nessa nova política de inclusão e voltada para a
tendência do Bilinguismo. Podemos destacar aqui a visão de Damázio e Ferreira
referente a inclusão de pessoas com surdez, onde os mesmos demonstram seus
pontos de vistas e ideais a respeito do tema.
Damázio
e Ferreira (2010) explicitam que acreditam na nova política de Inclusão e
ressaltam que não concordam com as concepções que diferenciam as pessoas com ou
sem deficiência, tendo em vista que por mais diferentes que sejamos, somos
iguais, nas experiências, nas relações etc., simplesmente porque somos seres
humanos. Os autores supracitados tratam também dos embates diários existentes
no ambiente escolar (língua, linguagem) que minimizam a causa da inclusão
apenas a algo a parte. O ser como alguém que possua deficiência. E alertam que
a língua deve ter seu lugar de destaque, mas não deve ser o centro do que
acontece no processo. E sugerem que deva haver o rompimento do paradigma da
dicotomização entre oralistas e gestualistas, onde a pessoa com surdez deve ser
percebida numa visão pós-moderna, como ser humano descentrado. Ou seja, tal
pessoa precisa ser vista como um todo e não focado apenas em partes, mais
especificamente a parte da deficiência.
Segundo
Damázio e Ferreira (2010, p. 48):
“... é necessário discutir que, mais do que
uma língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais
estimuladores, que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade perceptivo-
cognitiva. Obviamente, precisam como os demais, de uma escola que explore suas
potencialidades, em todos os sentidos.”
Diante
de tantas questões, Damázio e Ferreira (2010) se queixam que se a posse da
língua fosse suficiente para aprender, os ouvintes não apresentariam problemas
de aprendizagem e apontam também que o fracasso do processo educativo das
pessoas com surdez é um problema da qualidade das práticas pedagógicas e não um
problema focado nessa ou naquela língua, ou mesmo numa diferença cultural. Os
mesmos reforçam ainda a abordagem bilíngue como tendência das práticas
pedagógicas presentes nas escolas e a obrigatoriedade dos dispositivos legais
do Decreto 5.626 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação
que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de
Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita,
constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma
simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o
processo educativo.
Segundo
Pierucci (1999, apud Damázio e Ferreira, 2010) a pessoa com surdez precisa ser
trabalhada no ambiente escolar como alguém que possui deficiência, onde sua
deficiência provoca uma diferença, porém tal diferença deve ser respeitada e
não deve ser usada como justificativa do fracasso escolar, pois a atenção deve
está focada nas potencialidades do indivíduo, independente da deficiência ou
diferença.
Atendimento
Educacional Especializado – AEE
De
acordo com na nova política de inclusão o ensino dos alunos com surdez deve ter
como base a Pedagogia Contextual Relacional, ou seja, ensino com base em
contextos significativos, em que se levam em conta as vivências contextuais
relacionais que o ser humano em evolução experimenta. Dessa forma, apresenta-se
a estruturação de como se dar o trabalho do professor do Atendimento
Educacional Especializado - AEE com esses alunos, que são três momentos didático-pedagógicos:
-
AEE em Libras;
-
AEE para o ensino de Língua Portuguesa;
-AEE
para o ensino de Libras.
O
espaço do atendimento deve ser organizado com imagens visuais e de todos os
tipos de referências que possam colaborar com o aprendizado dos conteúdos
curriculares, onde os professores devem utilizar imagens visuais e, quando o
conceito é muito abstrato, recorrem a outros recursos que possam torná-lo o
mais concreto possível, como o teatro, por exemplo. Os conteúdos curriculares
em Libras devem ser ministrados antecipadamente ao trabalhado da sala de aula
comum, garantindo uma melhor associação dos conceitos nas duas línguas.
O
professor que ministra aulas de Libras deve ser qualificado para o magistério e
preferencialmente ser um profissional com surdez e não deve praticar o
bimodalismo e o professor de AEE de Língua Portuguesa deve ser
preferencialmente formado em Letras e ser capacitado quanto às especificidades
dessa língua para as pessoas com surdez.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com
Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista
Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.