sexta-feira, 7 de março de 2014

A NOVA POLÍTICA DE INCLUSÃO PARA PESSOAS COM SURDEZ



A nova política de inclusão já é uma realidade no contexto educacional e social dos cidadãos, embora sejam necessários ainda muitos avanços para chegar a sua totalidade. Na sua bagagem além de seu embasamento político e filosófico também vieram muitos embates, críticas e visão a respeito do assunto, mais especificamente no caso da inclusão da pessoa com surdez. Compreende-se de acordo com essa nova perspectiva a necessidade de uma quebra de barreiras e de paradigmas para uma posterior mudança de práticas, principalmente a pedagógica que até então encontra-se bastante defasada e longe do ideal com apenas algumas iniciativas isoladas baseadas nessa nova política de inclusão e voltada para a tendência do Bilinguismo. Podemos destacar aqui a visão de Damázio e Ferreira referente a inclusão de pessoas com surdez, onde os mesmos demonstram seus pontos de vistas e ideais a respeito do tema.
Damázio e Ferreira (2010) explicitam que acreditam na nova política de Inclusão e ressaltam que não concordam com as concepções que diferenciam as pessoas com ou sem deficiência, tendo em vista que por mais diferentes que sejamos, somos iguais, nas experiências, nas relações etc., simplesmente porque somos seres humanos. Os autores supracitados tratam também dos embates diários existentes no ambiente escolar (língua, linguagem) que minimizam a causa da inclusão apenas a algo a parte. O ser como alguém que possua deficiência. E alertam que a língua deve ter seu lugar de destaque, mas não deve ser o centro do que acontece no processo. E sugerem que deva haver o rompimento do paradigma da dicotomização entre oralistas e gestualistas, onde a pessoa com surdez deve ser percebida numa visão pós-moderna, como ser humano descentrado. Ou seja, tal pessoa precisa ser vista como um todo e não focado apenas em partes, mais especificamente a parte da deficiência.
Segundo Damázio e Ferreira (2010, p. 48):

 “... é necessário discutir que, mais do que uma língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade perceptivo- cognitiva. Obviamente, precisam como os demais, de uma escola que explore suas potencialidades, em todos os sentidos.” 

Diante de tantas questões, Damázio e Ferreira (2010) se queixam que se a posse da língua fosse suficiente para aprender, os ouvintes não apresentariam problemas de aprendizagem e apontam também que o fracasso do processo educativo das pessoas com surdez é um problema da qualidade das práticas pedagógicas e não um problema focado nessa ou naquela língua, ou mesmo numa diferença cultural. Os mesmos reforçam ainda a abordagem bilíngue como tendência das práticas pedagógicas presentes nas escolas e a obrigatoriedade dos dispositivos legais do Decreto 5.626 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo.
Segundo Pierucci (1999, apud Damázio e Ferreira, 2010) a pessoa com surdez precisa ser trabalhada no ambiente escolar como alguém que possui deficiência, onde sua deficiência provoca uma diferença, porém tal diferença deve ser respeitada e não deve ser usada como justificativa do fracasso escolar, pois a atenção deve está focada nas potencialidades do indivíduo, independente da deficiência ou diferença.

Atendimento Educacional Especializado – AEE


De acordo com na nova política de inclusão o ensino dos alunos com surdez deve ter como base a Pedagogia Contextual Relacional, ou seja, ensino com base em contextos significativos, em que se levam em conta as vivências contextuais relacionais que o ser humano em evolução experimenta. Dessa forma, apresenta-se a estruturação de como se dar o trabalho do professor do Atendimento Educacional Especializado - AEE com esses alunos, que são três momentos didático-pedagógicos: 
- AEE em Libras;
- AEE para o ensino de Língua Portuguesa;
-AEE para o ensino de Libras.
O espaço do atendimento deve ser organizado com imagens visuais e de todos os tipos de referências que possam colaborar com o aprendizado dos conteúdos curriculares, onde os professores devem utilizar imagens visuais e, quando o conceito é muito abstrato, recorrem a outros recursos que possam torná-lo o mais concreto possível, como o teatro, por exemplo. Os conteúdos curriculares em Libras devem ser ministrados antecipadamente ao trabalhado da sala de aula comum, garantindo uma melhor associação dos conceitos nas duas línguas.
O professor que ministra aulas de Libras deve ser qualificado para o magistério e preferencialmente ser um profissional com surdez e não deve praticar o bimodalismo e o professor de AEE de Língua Portuguesa deve ser preferencialmente formado em Letras e ser capacitado quanto às especificidades dessa língua para as pessoas com surdez.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


 DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p. 46-57.